A canadiana que se deu a conhecer ao mundo enquanto uma maria-rapaz perdeu, de vez, o receio de mostrar o seu lado mais feminino e emocional. Assim, se no disco anterior tudo eram rosas e Alanis partilhava com o universo o facto de ter encontrado alguém com quem pretendia construir uma relação sólida e duradoura, o novo longa-duração é, pelo contrário, o álbum que conta a história da (dolorosa) separação. Nesse sentido, "Flavors Of Entanglement" marca o regresso à agressividade de "Jagged Little Pill", até à data o seu trabalho de maior êxito, com mais de 35 mil cópias vendidas em todo o mundo. Essa fúria manifesta-se, aqui, sobretudo através da temática das letras e está, assumidamente, relacionada com o final da relação da artista com o actor Ryan Reynolds. O resultado são canções viscerais, algumas delas a fazer lembrar o clássico "You Oughta Know". "Underneath" e "Straitjacket" são duas das músicas em que Morissette pratica esse dissecar de sentimentos espinhosos de "final de conto de fadas".
O novo disco apresenta uma acentuada vertente tecnológica, que mais não é do que o reflexo dos gostos adolescentes da cantora pela electrónica e o hip hop. Essa mudança de estética já havia, de resto, sido anunciada ao mundo no ano passado, com uma versão humorística de "My Humps", dos Black-Eyed Peas, que se tornou num êxito, através do site Youtube. A colaboração com Guy Sigsworth (Björk, Madonna) é audível neste capítulo, com novas texturas electrónicas, aqui e além algo dançáveis, "loops" de bateria e vozes alteradas. Por outro lado há, também, faixas mais orgânicas, cuja sonoridade assenta no piano, tais como "Not As We", uma forte candidata a single.
"Flavors Of Entanglement" é, em muitos momentos, um disco complexo e até indecifrável. Essa sempre foi, de resto, uma das marcas de água de Alanis Morissette: mais nenhum outro artista ia lembrar-se dos títulos que a canadiana tem atribuído aos seus trabalhos, de "Jagged Little Pill" a "Under Rug Swept", passando por "Supposed Former Infatuation Junkie". "Citizen Of The Planet", o tema de abertura, será, porventura, uma das músicas mais inspiradas de todo o álbum, a par do single "Underneath", da agressiva "Versions Of Violence" e das introspectivas "Tapes" e "Not As We". Scarlett Johansson pode ter ficado com Ryan Reynolds mas Alanis Morissette tem algo que a actriz dificilmente alcançará: um disco profundo e pleno de emoção. Treze anos após "Jagged Little Pill", Alanis pode não ter composto outra obra prima, no entanto continua a ser uma das maiores representantes do rock no feminino.
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